Muito antes do slide bonito, da visão inspiradora ou do plano de expansão promissor, há uma pergunta silenciosa que todo investidor faz — e que poucos empreendedores estão preparados para responder:
“Esse negócio aguenta o que promete?”
Essa pergunta não se responde com carisma. Se responde com base técnica. E, segundo Robson Gimenes Pontes, especialista em estruturação financeira e governança corporativa, é aí que muitos pitches começam a morrer — ainda que ninguém diga isso abertamente.
“Já estive dos dois lados da mesa. E posso dizer com tranquilidade: os investidores sérios querem ver musculatura técnica antes de ver brilho comercial”, afirma.
Robson explica que há uma lista — informal, mas bastante clara — do que fundos e investidores analisam antes de avançar qualquer conversa de aporte:
- A qualidade dos dados financeiros: Não basta ter número. É preciso que eles façam sentido entre si, estejam auditáveis e projetem realidade — não otimismo.
- A estrutura de controle: Quem aprova o quê? Como as decisões são documentadas? Há separação entre dono e operação?
- O nível de exposição: Qual o risco fiscal, trabalhista, contratual e de inadimplência? Há mapeamento disso?
- O grau de previsibilidade: Existe modelo orçamentário? Há fluxo de caixa projetado? O crescimento é estruturado ou episódico?
- A maturidade do time técnico: O CFO ou controller participa da estratégia ou apenas fecha planilha?
“Você pode ter um negócio incrível, mas se o investidor perceber que os dados não estão em ordem ou que não há capacidade técnica para escalar com controle, a negociação esfria na hora”, pontua Robson.
Outro erro comum é achar que “estar em crescimento” é justificativa para desorganização. Na verdade, é o oposto. Investidores valorizam empresas que cresceram com estrutura, mesmo que em ritmo mais controlado.
Robson reforça que a saúde técnica de uma empresa é o que protege o capital investido. E, portanto, é a parte mais avaliada — mesmo que disfarçada sob perguntas genéricas. “Muitos pitches são interrompidos não porque o negócio é ruim. Mas porque o que sustenta esse negócio ainda não está pronto.”
Sua recomendação é clara: antes de buscar capital, prepare a base.
“Tenha um plano financeiro realista, estruture seu fluxo de decisões, corrija riscos herdados e capacite seu time técnico para atuar com protagonismo. O investidor não está comprando só seu produto — está comprando sua governança.”
Autor : Samantha Perlanovx